segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Guia de Produção Textual - Depoimentos de alunos

Depoimentos de alunos


     A vivência da sala de aula onde experimentamos nossa convicção de que o aprimoramento da competência textual decorre do ler, do saber ler, do monitorar a própria leitura, do observar o texto, do estar exposto a textos modelares, do surpreender-se diante do texto, do admirar-se teve ótima aceitação por parte dos alunos, conforme os depoimentos a seguir.

     No primeiro texto, Renata Eichenberg rende seu tributo a autores que contribuíram teoricamente para ampliar sua competência textual. Observe-se que a autora emprega com habilidade a figura da repetição, traço estilístico incorporado a seu universo lingüístico mediante proposta constante neste "Guia".

     No segundo texto, de Luciana Schmidt Alcover, a autora se confessa surpresa com o método, que resgatou seu gosto pela leitura e pela escrita.

     No terceiro - "Uma Forma Inédita de Ensinar", de Clarissa Laux, lê-se o depoimento que reforça a idéia de que a melhoria da competência textual se dá naturalmente, "por instinto"... "que devia haver algo de errado nas aulas que sempre freqüentei, onde aprender nossa Língua parecia muito mais um martírio do que algo em que se pudesse encontrar prazer." "Que o importante é que os alunos aprendam a ler de forma construtiva (...). Este, sim é um conhecimento efetivo e perene."

     Finalmente, em "Fluxo Gramatical de Consciência", Aluíso B. Pinheiro expressa uma crítica contra o ensino da gramática em sala de aula enfatizando a idéia de que a ampliação da competência textual não se dá mediante definições, classificações, decoreba de nomenclaturas, de regras - método, infelizmente, muito empregado ainda em nossas aulas de língua portuguesa.

 
7 Magos
21 Aprendizados

Renata Eichenberg

     Frank Smith
     Aprendi que escrever requer uma enorme bagagem de conhecimentos específicos, adquiridos apenas através da leitura.
     Aprendi que somente através da leitura o escritor aprende todos os mistérios que conhece.
     Aprendi que aprendemos a escrever muitas vezes sem saber que estamos aprendendo.
     Aprendi que a ênfase na eliminação de erros resulta na eliminação da escrita.

Celso Luft
     Aprendi que o conhecimento e domínio da língua se dá por um processo natural, através do auto-ensino.

Moacyr Scliar
     Aprendi que a cópia não é crime,pelo contrário, é inevitável e natural no início do processo da escrita. Agora me sinto com a consciência leve, pois já perdi a conta de quantos autores já me foram úteis na composição dos meus textos.

Nilson Souza
     Aprendi que escrever é rescrever. Um bom texto necessita ser relido e rescrito quantas vezes forem necessárias. A idéia precisa ser clara. Toda a escrita obedece a um ciclo: escrever, cortar e rescrever repetidamente.
     Aprendi que todo o escritor tem que ser autocrítico para eliminar tudo que estiver "sobrando" ou "atrapalhando" o texto, e paciente e corajoso para apagar um texto e recomeçar, quando este não foi bem escrito.
     Aprendi que todo o escritor deve ser persistente, lutar pela melhor palavra ou expressão para aquela frase, dentro daquele texto.
     Aprendi que o escritor necessita ler, porém escrever também. E, se possível, submeter seus textos à apreciação de leitores qualificados.
     Aprendi que o melhor amigo do escritor é a lata do lixo, uma vez que uma boa redação só pode ser alcançada com humildade, com o reconhecimento da má obra.
     Aprendi que a pontuação é o cimento do texto. Uma vírgula mal colocada pode mudar significativamente o sentido da frase.

Samuel Johnson
     Aprendi que o que é escrito sem esforço, geralmente é lido sem prazer.

Arnaldo Jabor
     Aprendi que o escritor possui um desejo de enganar, atrair, mentir, roubar o leitor.
     Aprendi que o escritor, constantemente, está em busca do elogio à sua obra, nem que seja o seu próprio elogio.
     Aprendi que o escritor é muito mais falado pelas palavras do que as fala.

Liberato Vieira da Cunha
     Aprendi que o escritor deve dominar todas as armadilhas do idioma, mantendo boas relações mesmo com as mais exóticas entidades.
     Aprendi que é essencial para um escritor ousar a criação de algo novo, original, único.
     Aprendi que o escritor deve ser disciplinado, obstinado quase.
     Aprendi que o escritor precisa provocar os demônios interiores em horas determinadas, ou em cada fiapo do tempo disponível.
     Aprendi, finalmente, que o escritor, em hipótese alguma, deve desistir quando um branco se instala em sua mente e nenhum pensamento, nenhuma emoção, fantasia circula nesse vácuo, por mais persistente que o escritor seja.
 


 
Por Uma Aprendizagem Natural

Luciana Schmidt Alcover

     Sete e meia da noite, sexta-feira (véspera de carnaval), sala de aula vazia, seis alunos e um professor. Oito horas da noite, o professor se apresenta e inicia aula, que mais parece uma conversa informal. Algo que eu nunca havia vivenciado antes.
     Existe um ditado popular que diz "a primeira vez a gente nunca esquece", eu concordo. Impossível esquecer e não me surpreender com tudo o que foi dito em pouco mais de uma hora e meia de aula. O professor informou aos alunos que seria um semestre sem provas, sem aulas monótonas, sem livros obrigatórios, sem regras, sem decorebas e, principalmente, sem aprendizagem forçada. Parecia que tudo aquilo que eu sempre esperava ser um modelo ideal de aprendizagem realmente existia. Um método eficaz, chamado pelo professor de Método Natural.
     Desde as épocas de colégio, fui acostumada a estudar português da seguinte forma: assistindo às aulas, decorando regras, fazendo exercícios e lendo os livros solicitados. Meus professores sempre foram rígidos com horários e muito críticos em suas avaliações. Por isso, escrever se tornava em problema. As redações, assim como no vestibular, tinham tema definido na hora, eram feitas em sala de aula, em curto espaço de tempo. E ainda, deveria ter como características um texto original e sem erros de pontuação ou ortografia. Caso contrário, poderia aguardar como resultado notas baixíssimas. Foi dessa forma que perdi um pouco o gosto pela leitura e escrita.
     Mas, o tempo passou. Hoje, já recuperada dessas experiências, consegui resgatar novamente o meu gosto pela leitura e escrita, com a ajuda de...
 


 
Uma Forma Inédita de Ensinar

Clarissa Laux

     Durante o sucessivos anos em que estive na escola,sempre ouvi os professore de Língua Portuguesa repetirem, sacal e incessantemente, as regras gramaticais, como se apenas àqueles que tivessem memória suficiente para armazená-las estivesse reservado o sucesso. Era um desfile pavoroso de análises sintáticas, morfológicas, ditongos, tritongos, e outros de seus comparsas. Perdida, eu me perguntava: será que um dia eu serei capaz de gravar tudo isto?
     Terminei o segundo grau sem conseguir compreender nem a metade das tais regras, mas, surpreendentemente, com ótimas notas em Português. Quando, no entanto, comecei a preparar-me para o tão temido vestibular, achei que era chegada a hora de aprendê-las. Depois de aulas e mais aulas, horas de decoreba sem fim, concluí, estupefata, que ainda não havia assimilado a maioria delas. Resolvi, então, desenvolver e aperfeiçoar aquilo que utilizara durante os anos de colegial: o instinto. Por resultado, obtive quase que a nota máxima em Língua Portuguesa e Redação, e entrei para a faculdade.
     O leitor deve estar se perguntando, agora, o que quero dizer por instinto. "Terá ela um sexto sentido?", deve estar pensando, com um misto de ironia e incredulidade, em sua cabeça. A resposta é não. E, para afastar qualquer tipo de antipatia precipitada, me explico.
     Em primeiro lugar, sempre gostei muito de ler. A leitura, além de nos abrir horizontes, nos ensina muito mais do que podemos perceber conscientemente. Isto porque, quando tentamos decorar algo pura e simplesmente, sem muitas vezes nem ao menos entender as razões, criamos como que uma barreira, uma parede por onde os conhecimentos não conseguem passar. Quando, no entanto, nos entregamos à leitura, absorvemos as informações de um jeito que o cérebro aceita, registra e ainda pede mais. E quando fazemos dela um hábito, acabamos por gravar, efetivamente, as tão amedrontadoras regras em nosso subconsciente. Daí por diante, parece que passamos a reconhecer quando algo está errado, mal construído ou mal colocado, apenas pela visão. Mágica? Não. Condicionamento do olhar.
     Da mesma forma que as regras, todo esse pensamento sempre esteve guardado em algum canto de minha cabeça. Ao mesmo tempo em que acreditava nisto, repreendia-me, pois o que os professores diziam era, senão o contrário total, ao menos discordante. Aí, na primeira aula de Português Aplicado à Comunicação, o professor introduz um conceito completamente novo de ministrar conhecimentos, ao qual ele chama "Método Natural de Aprendizagem". Estupefata, vejo ele pregar o ensino do Português através da leitura, sem a costumeira devoção à Gramática, de forma crítica e interessante. Consigo, então dar voz àquele sentimento de que devia haver algo de errado nas aulas que sempre freqüentei, onde aprender a nossa Língua parecia muito mais um martírio do que algo em que se pudesse encontrar prazer.
     Assim, o Método Natural de Aprendizado veio ao encontro das idéias que eu tinha. Concordo total e irrestritamente com ele, pois penso que o ensino de Língua Portuguesa deva se dar de forma tal que o aluno se aproxime dela, e não se sinta amedrontado. Deve-se ensinar mais do que regras; o importante é que os alunos aprendam a ler de forma construtiva, tirando deste prazer tudo o que ele pode lhes proporcionar. Este, sim, é um conhecimento efetivo e perene.
 


 
Fluxo Gramatical de Consciência

Aluísio B. Pinheiro

     Vogais, consoantes, fonemas, dígrafos, sílaba, palavra, oxítona, paroxítona, proparoxítona. Encontros vocálicos, ditongo, tritongo, hiato e encontros consonantais. Hífen, minúscula, maiúscula, homônimas, parônimas, por quê?
     Radicais, afixos, tema e desinência, prefixos, sufixos e radicais gregos e latinos. Derivação e composição, onomatopéia, abreviação e hibridismo. Substantivo, artigo, adjetivo, numeral e pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção, interjeição, por quê?
     Frase, oração e período, verbo transitivo, intransitivo, direto e indireto ou de ligação. Tempos, predicado e predicativo, complementos nominais, agente da passiva, adjuntos adnominais e adverbiais, apostos e vocativos, por quê?
     Orações sindéticas, períodos compostos, sintaxe, concordância nominal, regência, crase, por que crase? Pronomes oblíquos, vírgula, ponto-e-vírgula, infinitivo conjugável, sinônimos, antônimos, homônimos, parônimos. Figuras de linguagem, metáforas, metonímias, catacrese, elipse, pleonasmo, anacoluto, silepse, hipérbato, hipérbole, eufemismos e ironias, prosopopéias e antítese, por que, por quê???
 

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