Prefácio
Por uma aprendizagem natural da escrita
Sem professor. Sem aula. Sem provas. Sem notas. Sem computador. Sem dom. Sem queda. Sem inspiração. Sem estresse! Só tu. Tu e tu. Tu e o texto. Tu e a folha em branco. Que impassível espera ser preenchida, para entretecer contigo a teia de palavras que liga todas as dimensões de tua existência, nesta travessia de comunicação de ti para contigo, de ti para o outro. Sem. Só tu. Com teu ritmo. Com tua pulsação. Com paixão. Na aventura do cotidiano. De resgatar a memória. De fecundar o presente. De gestar o futuro. Anunciando esperanças. Denunciando injustiças. In(en)formando o mundo com tua-vida-toda-linguagem. Sem! Levanta tua voz: em meio às desfigurações da existência, da sociedade, tu tens a palavra. A tua palavra. Tua voz. E tua vez.
Gilberto Scarton
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Os problemas da escrita não decorrem (tanto) da falta do domínio das regras gramaticais. A competência comunicativa na produção textual implica outras variáveis que ultrapassam os domínios prescritivos, normativos que se aprendem na maioria das vezes nos livros, no ensino formal. Importa sobretudo que o texto seja coerente, coeso, ajustado ao contexto de comunicação, informativo quanto do conteúdo e surpreendente quanto à forma e em diálogo com outros textos.
A competência textual, que se evidencia mediante o domínio desses fatores de textualidade, não se desenvolve simplesmente pelo próprio exercício da escrita, por tentativa e erro, em treinamentos, em livros-texto ou nos bancos escolares. Na verdade, internalizamos os recursos de expressão de que necessitamos para escrever através da leitura (inteligente), da leitura que decodifica o texto em sua forma,ultrapassando sua superfície e o interesse apenas por seu conteúdo.
O que sustenta, portanto, a proposta do GUIA DE PRODUÇÃO TEXTUAL é a certeza de que somente uma relação estreita, inteligente, intensa do leitor com o texto pode levá-lo à internalização da competência textual.
O talento nada mais é do que assimilação, escreveu o crítico francês Albalat. E a assimilação, como insistimos aqui e em outros momentos, decorre do ler, do saber ler, do monitorar a própria leitura, do observar o texto, do surpreender-se, do admirar-se diante do texto, o que leva a escrever o que se lê, a imitar, a recriar, a encontrar nosso próprio estilo. Escrevemos o que lemos.
O GUIA DE PRODUÇÃO TEXTUAL tem, pois, a pretensão de ser um manual de redação que objetiva contribuir para ampliar a competência textual dos interessados, e fazê-lo mediante, principalmente, a exposição a textos modelares, a observação dos recursos estilísticos neles existentes, o incentivo à leitura inteligente, a assimilação pela imitação / internalização ativa da forma lingüística, num permanente acréscimo e desenvolvimento do repertório de expressão.
Prof. Gilberto Scarton
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